PEIXOTO FALA SOBRE SUAS METAS PARA ADMINISTRAR O MUNICÍPIO DE ITACOATIARA




Por: Roberto Pacheco (MTb 426)
Peixoto: “Em 1996 fui o único vereador eleito pelo Partido dos Trabalhadores, reeleito em 2000 e reconduzido pelo povo para o terceiro mandato consecutivo em 2004, sendo o segundo mais votado do município. Ousei em 2008 e fui eleito prefeito de Itacoatiara. As circunstâncias foram muito grandes. Tudo isso fez brotar o ódio daqueles que perderam as eleições para um simples trabalhador rural, que andava de sandália havaianas, de bermuda e camisa branca”.

       O prefeito que vai administrar os destinos de Itacoatiara (a 270km de Manaus), durante os próximos 4 anos, Antônio Peixoto de Oliveira, o Peixoto, fala sobre suas metas para gerar emprego e distribuição de renda porque, segundo ele, 80% da população do município está desempregada.

Nessa entrevista, concedida com exclusividade para O Furacão, Peixoto, eleito com 22.284 votos nas eleições de 2016, destila chumbo de grosso calibre no seu principal opositor e desafeto, o atual prefeito de Itacoatiara, Mamoud Amed Filho, que ficou em segundo lugar com 3.724 votos a menos. “Eles tomaram o meu segundo mandato seguido em 2012. Eu estava ganhando as eleições quando faltavam apenas 5 urnas para serem contabilizadas, mas as luzes foram apagadas e com uma hora depois que voltou eu tinha perdido, inexplicavelmente”, detona.
Peixoto falou à reportagem que passou quatro anos fora do Poder trabalhando, refletindo e estudando a situação do povo. “Certa vez lembrei da frase que o filho do Homem falou ao sair de uma determinada casa quando ele acabara de curar um deficiente físico e os discípulos lhe perguntaram: ‘Senhor, este jovem nasceu doente por pecado dele ou dos pais dele?’, e Jesus lhes disse: ‘Nenhuma coisa e nem outra. Ele nasceu assim para que a glória de meu Pai se manifestasse através de mim’ (João 9). Me tiraram a reeleição para que as pessoas vissem a tirania do cidadão que fez isso comigo, mas agora foi feito a justiça e vamos consertar o que está errado. Nesse mandato, vamos fazer circular o dinheiro na nossa cidade, nas comunidades, precisamos aquecer a economia doméstica para fazer as pessoas consumirem melhor e, com isso, vamos melhorar o salário das pessoas”, profetiza.
O prefeito eleito lembrou ainda que no seu primeiro mandado o gari comprava moto, mas perderam quase tudo o que tinham adquirido porque não estavam pagando as prestações. “Quando eu saí eles derrubaram em R$ 500, do valor do salário deles. Nós retomaremos toda essa linha de crescimento. O empresariado não vai para onde as pessoas não possuem dinheiro para comprar e toda vez que isso acontece o município despenca como despencou agora. Eu não vou negociar com eles para levar vantagens, não. Eu vou atraí-los. No bom sentido da palavra, significa dizer que a nossa administração não vai extorquir, mas dar apoio e fazer o empresário ganhar dinheiro em Itacoatiara, gerando emprego e distribuição de capital. Sintetiza Peixoto.
Veja a seguir a entrevista na íntegra.

O Furacão: Para chegar até aqui, parece que a jornada foi longa. Como foram os primeiros passos?
Peixoto: Não foram fáceis. Assim como meus pais, José Barbosa e Terezinha Peixoto, eu também sou trabalhador rural. Nasci no ano de 1955 no Paraná do Jacaré, uma comunidade do município de Itacoatiara, próxima ao Paraná da Eva, época em que as coisas eram bem mais difíceis do que são hoje. Na minha infância estudei numa escolinha da comunidade e cursei até o 2º ano com a professora Sebastiana Galvão de Oliveira, a quem tenho o maior carinho e respeito. Tive a felicidade de participar do seu aniversário de 90 anos o que, para mim, foi uma alegria muito grande. A escolinha de ensino fundamental - o antigo primário - só funcionava até o 5º ano e a professora Sebastiana só tinha autorização para lecionar até o 2º ano e, por ironia do destino, havia chegado à nossa comunidade a professora normalista Maria Zaíra Gadelha de Oliveira que estava credenciada pelo sistema de educação, na época, para lecionar até o 5º ano, então eu fiz até o segundo ano com a dona Sebastiana e, a partir do terceiro ano, com a professora Zaíra. Depois me matriculei no antigo Curso Supletivo estudando pelo rádio durante os meus 17 para 18 anos.

O Furacão: E os amigos daquela época?
Peixoto: São muitos e eu ainda tive o privilégio de estudar com dois irmãos, o Aristides e o João. Em Manaus eu tenho vários amigos dessa época como, por exemplo, o Nena, o Raimundo Galvão, filho da dona Sabá, o Zeca, a minha cunhada Neuza, a Ana, o Sebastião, dentre outros amigos queridos. Alguns, infelizmente, já não estão mais entre nós como foram os casos da Graça, do Antônio Periquito, do Walmir Gadelha. Existem outros amigos que não estão mais nem morando no Amazonas, mas que eu guardo suas amizades com muito carinho e boas recordações.

O Furacão: O senhor começou a trabalhar com quantos anos?
Peixoto: Eu comecei na agricultura muito cedo. Não tínhamos muita coisa para fazer e estudávamos na escolinha que funcionava pela parte da manhã. A partir dos oito anos de idade toda a meninada já ajudavam os seus pais na agricultura familiar. Nós trabalhávamos na roça com a cultura do feijão, mas naquela época o produto que representava o maior volume de recursos era a fibra de juta e da malva. Somos onze irmãos, sendo um falecido, só do casamento da minha mãe que também faleceu muito nova e todos nós passamos a vida toda na agricultura familiar, trabalhando na cultura de subsistência.

O Furacão: E como foi seu ingresso na vida pública?
Peixoto: Depois dos meus dezoito anos eu fui fazer a primeira catequese: um curso de quinze dias que eu fiz no Centro de Treinamento da Prelazia de Itacoatiara e foi a partir daí que comecei a minha vida pública. Mais tarde eu assumi a coordenação da comunidade e depois fui indicado para ser agente de primeiros socorros. Ainda guardo com muita recordação o certificado do Curso de Primeiros Socorros que fiz ainda nos anos 70. Meu curso de catequese foi em janeiro de 1973 e em 1976, com 21 anos completo eu me casei com a dona Bela e tivemos 6 filhos. Temos quatro filhas mulheres e dois homens, aliás a caçula, que era a Daniele, está nas estrelas porque o papai do céu a levou com 7 meses de idade e nós formamos uma família hoje de 5 filhos vivos, sendo duas filhas e dois filhos casados que nos deram 10 netos.

O Furacão: Mas o senhor teve uma passagem como professor...
Peixoto: É verdade. Depois de casado eu fui chamado pela comunidade do Lago do Engenho para lecionar como professor rural no período de 1977 a 1979. Entre esse período, em 1978, pela influência da minha participação e experiência que adquiri naquela região, fundamos a primeira Delegacia Sindical da comunidade, envolvendo o Sagrado Coração e a comunidade de São Francisco do Paraná do Jacaré, onde nós morávamos.

O Furacão: Qual a sua função na Delegacia Sindical?
Peixoto: Eu era o tesoureiro e depois de dois anos eu parei de lecionar por situações que não vale comentar, em seguida retornei para o Paraná do Jacaré, quando desmembramos os associados do Sagrado Coração e fundamos uma nova delegacia: a Delegacia Sindical de São Francisco do Paraná do Jacaré.
O Furacão: E como foi o seu ingresso no PT?
Peixoto: Em 1980 o Brasil dá uma guinada na sua história política partidária, extinguindo os dois partidos políticos que havia, a Arena e o MDB e em 1981 eu me filiei ao PT, que tinha sido fundado em 1980, vindo a assumir como o primeiro presidente oficial do partido em Itacoatiara.

O Furacão: Nessa época o senhor foi candidato a algum cargo eletivo?
Peixoto: Na realidade eu fui indicado, em 1981, para concorrer como o primeiro candidato do nosso partido à prefeitura de Itacoatiara. Em 1982 eu concorri às eleições, dando o início da história do PT no Brasil. Era voto vinculado e o eleitor estava condicionado a votar em candidatos de um mesmo partido para a Câmara dos Deputados e Assembleia Legislativa e eu tive a honra e a felicidade de ter dado esse pontapé histórico no nosso município.

O Furacão: E como foi o desempenho do estreante PT, em Itacoatiara?
Peixoto: Dos cinco candidatos nós ficamos com o terceiro lugar, com 684 votos. Eu tive a felicidade de ter feito parte desta chapa com a professora Maria do Socorro Rolim. 

O Furacão: E o que o senhor fez para fortalecer o PT, em Itacoatiara?
Peixoto: Em 1985 eu fui convidado pela direção do meu sindicato, o Sindicato dos Trabalhadores Rurais, dos quais eu era delegado sindical, para compor a chapa como Secretário Geral e fomos eleitos com o Ademarzinho na tesouraria e o companheiro Nazaré Paiva de Andrade na presidência. Cumprimos o nosso mandato de três anos e depois fui eleito presidente por mais três e, em seguida, fui compor a chapa como Secretário de Informação quando ficamos por mais três anos. Ao todo, fiquei nove anos consecutivos na direção do sindicato e, durante esse tempo, o nosso trabalho fortaleceu muito o PT no município.

O Furacão: O que o Sindicato dos Trabalhadores Rurais fez pela comunidade durante esses nove anos?
Peixoto: O nosso trabalho começou nos dois últimos anos do Estado de Exceção, depois do movimento popular 'Diretas Já', época em que os sindicatos já tinham um pouco mais de liberdade para desenvolver suas atividades. Mesmo assim, o nosso sindicato ainda vivia sob algumas regras impostas pelo Ministério do Trabalho, ainda não tinha autonomia própria porque o governo federal dava e caçava Carta Sindical e dizia tudo o que o sindicalista devia fazer, sob pena de ser caçado pela Lei de Segurança Nacional, por meio do Serviço Nacional de Informação (SNI). Eu ainda participei dos momentos difíceis dessa época. Mas o que me enche os olhos de orgulho, foi que nesse mesmo período eu fiz um trabalho dentro do Lago do Engenho para criarmos uma entidade informal denominada ‘Lavradores em Ação’. Essa organização me dá muitas alegrias porque é a melhor experiência que eu possa ter visto de organização, tanto a nível de classe sindical quanto a nível de solidariedade. Nós fizemos um trabalho que era muito parecido com a vida dos primeiros cristãos. Todas as 21 famílias que se inscreveram no Lavradores em Ação, viviam muito próximo da vida em comum, tudo entre nós era partilhado, era combinado, tudo era na base da solidariedade.
O Furacão: Era "um por todos e todos por um", como no lema dos Três (ou quatro) Mosqueteiros, do romance de Alexandre Dumas?
Peixoto: Era muita ação e luta extraindo o suor dos mosqueteiros da solidariedade. Aonde encontrávamos uma pessoa necessitada a gente entrava com a força do nosso trabalho. O Lavradores em Ação organizou um grupo de trabalhos para que todos os membros tivessem um roçado com todos os cuidados necessários para plantar abacaxi e que essa produção fosse padronizada. Por meio de levantamento socioeconômico, identificávamos as famílias com maior vulnerabilidade financeira e assim, com 5 anos de trabalho, o Lavradores em Ação tinha padronizado a planilha. Quem estava com as pernas melhor ajudava um pouquinho mais. Aqueles que estavam mais necessitados e tinham um nivelamento por baixo o grupo todo se unia para ajudar. O Lavradores em Ação passou seis anos, de 1987 a 1993, por uma experiência fantástica com todo mundo produzindo bem, melhorando o seu padrão de vida. Nós saímos de um casquinho de pesca para um voador de 15, de uma simples lamparina para um Grupo Gerador, de um radinho de pilha para uma televisão colorida, com parabólica. Esse foi o padrão de vida que a nossa gente adquiriu na época.
O Furacão: E o que foi feito do Lavradores em Ação?
Peixoto: Em 1993 nós transformamos o Lavradores em Ação na Associação de Desenvolvimento Comunitário da Comunidade do Sagrado Coração de Jesus do Paraná da Eva (Ascope) e, com essa medida, conseguimos financiamento do primeiro FNO (Fundo Constitucional de Financiamento do Norte) Especial no Amazonas, uma luta conquistada pela organização dos trabalhadores e trabalhadoras rurais do Brasil. Em 1997, quatro anos depois, nós transformamos a nossa Associação em Cooperativa, que continuou com o nome de fantasia de Cooperativa Ascope. Até hoje tenho muito orgulho de ter contribuído com a força do meu trabalho erguer essa entidade. Em 2017 ela vai completar 30 anos de existência, desde a criação do Lavradores em Ação, passando pela Associação até a Cooperativa Ascope.
O Furacão: E o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Itacoatiara continua atuante?
Peixoto: Em nível de Amazonas, está com uma política média no que compete a trabalho atuante. Em todo o Estado o nivelamento dos trabalhadores rurais não está à altura do que deveria ser por várias circunstâncias, mas a gente não pode culpar os nossos heróis, que são os seus diretores. Eu diria que está faltando um pouco mais. Mas tudo isso é um reflexo da situação econômica por que passa nosso país.
O Furacão: Como foi sua trajetória política?
Peixoto: Em 1996 fui o único vereador eleito pelo Partido dos Trabalhadores, reeleito em 2000 e reconduzido pelo povo para o terceiro mandato consecutivo em 2004, sendo o segundo mais votado do município. Ousei em 2008 e fui eleito prefeito de Itacoatiara. As circunstâncias foram muito grandes. Tudo isso fez brotar o ódio daqueles que perderam as eleições para um simples trabalhador rural, que andava de sandália havaianas, de bermuda e camisinha branca.
O Furacão: Nessa época o PT estava no auge...
Peixoto: É. O Lula estava numa ascensão muito grande e nós conseguimos chegar lá. Se o leitor prestar atenção, tudo o que está acontecendo hoje de descobertas, de crimes e roubalheira é graças ao trabalho que o nosso então presidente iniciou dando todo o fortalecimento às instituições, aparelhando o Estado e dando autonomia tanto para o Ministério Público quanto para a Polícia Federal. Isso chama-se cortar na própria carne, sem isso ninguém tinha descoberto nada.
O Furacão: Quando foi prefeito pela primeira vez, o senhor e a sua equipe no Congresso Nacional conseguiram muitos recursos junto ao Governo Federal?
Peixoto: Conseguimos uma leva muito boa de recursos em 2009, na grande enchente, por meio da Defesa Civil; em 2010, na seca; e em 2012, também. Todos os anos fomos bem atendidos, mas o que eu me refiro de atendimento não foi só isso. Na minha gestão, Itacoatiara foi um dos municípios mais bem assistido pelo Luz para Todos, um programa do meu querido Lula e minha querida Dilma, que na época em que o foi criado era a ministra de Minas e Energia. Nós somos um município com três módulos do Minha Casa Minha Vida, já entrando agora para o quarto e isso tudo foi no meu mandato. 
O Furacão: O Luz para Todos beneficiou todas as 227 comunidades de Itacoatiara?
Peixoto: Ainda não. Nós estamos com 85% do município atendido. Agora eu vou ter a felicidade, já no início do meu mandato, de assistir o lançamento do cabo subaquático que vai levar luz elétrica para quatro ilhas, em Itacoatiara: Ilha do Risco, Ilha do Cumarú, Ilha do Soriano e Ilha do Beija-Flor. Isso vai beneficiar uma média de 300 famílias, ou mais.
O Furacão: Além do Luz para Todos, quais outros benefícios o senhor trouxe para Itacoatiara na sua primeira gestão?
Peixoto: Nós conseguimos seis quadras poliesportivas para beneficiar a juventude e contribuir, é claro, com a questão do ensino, do aprendizado. A educação precisa de quadras poliesportivas onde o jovem possa completar todo o processo de ensino educativo. A última quadra que tinha sido construída no nosso município foi há mais de 20 anos. Além disso, nós construímos quatro creches, duas UBS (Unidade Básica de Saúde), a Praça da Juventude, várias academias à céu aberto, quatro escolas de 12 salas que só precisava fazer a licitação. Deixamos também um projeto para construção para uma UBS flutuante que ficou para o mandato subsequente, mas segundo informações, já está quase pronta e devo inaugurar no início do meu próximo mandato.
O Furacão: Com todas essas obras, por que o senhor não foi reeleito?
Peixoto: Porque tomaram o que seria o meu segundo mandato seguido. Eu estava ganhando as eleições quando faltavam apenas 5 urnas para serem contabilizadas, mas as luzes foram apagadas e com uma hora depois que voltou eu tinha perdido as eleições inexplicavelmente. Impetramos recursos junto ao TRE (Tribunal Regional Eleitoral), mas não obtivemos êxito.
O Furacão: E o que o senhor fez nesses últimos anos?
Peixoto: Eu fiquei quatro anos fora do Poder trabalhando, refletindo e estudando a situação do nosso povo. Certa vez lembrei da frase que o filho do Homem falou ao sair de uma determinada casa quando ele acabara de curar um deficiente físico e os discípulos lhe perguntaram: "Senhor, este jovem nasceu doente por pecado dele ou dos pais dele?", e Jesus lhes disse: "Nenhuma coisa e nem outra. Ele nasceu assim para que a glória de meu Pai se manifestasse através de mim”. Me tiraram a reeleição para que as pessoas vissem a tirania do cidadão que fez isso com o meu mandato. Mas quando foi agora, nessas últimas eleições, nós tivemos a alegria de ver milhares de pessoas caminhando pelas ruas da nossa cidade, por idealismo, voluntariamente, sem financiamento, já que ninguém financia ninguém para andar à pé, para votar na nossa proposta de trabalho e com isso tivemos uma vitória esmagadora sobre aquele candidato que nunca havia perdido uma eleição que, mesmo sem mandato em mãos, com seu apoio ganhava de quem tinha um mandato e, dessa vez, com mandato em mãos, com a máquina na mão, com o Estado do lado dele, com deputados e senadores do lado dele, com cinco mandatos de prefeito e meio mandato de deputado estadual (em 1992) ele perdeu a reeleição para nós. Ganhamos com uma diferença de quase 4 mil votos.
O Furacão: Como prefeito eleito, o que o senhor espera do governo Temer nesses próximos dois anos?
Peixoto: Nós estamos temendo mesmo. Estamos com receio de que todas as conquistas dos trabalhadores e trabalhadoras, dos quais eu tenho orgulho de fazer parte, sejam extintos.
 O Furacão: O senhor acredita que o governo Temer possa ser prejudicial para a sua gestão, dificultando o envio de recursos para Itacoatiara?
Peixoto: Espero que não. Mas eu temo muito pela política de um modo global. Itacoatiara está muito distante dos centros mais visualizados para servir de bode expiatório.
O Furacão: Mas o senhor tem uma senadora, trabalhando pelo Amazonas...
Peixoto: Temos dois senadores. Eu acho que não seremos atingidos pelo governo Temer porque o meu vice é do PMDB e a princípio acredito que deveremos contar com o apoio do senador Eduardo Braga que, sem dúvida nenhuma, fará tudo para que esta administração seja benéfica para Itacoatiara. Já a senadora Vanessa Grazziotin terminou todo o processo do impeachment da presidente Dilma abraçada na defesa intransigente do projeto político que nós defendemos e que ela muito se encaixou.
O Furacão: E o seu vice vai trabalhar?
Peixoto: Ele vai trabalhar. Eu fui prefeito de 2009 a 2012 e o meu vice tinha função igual a do prefeito. Quando eu saía de Itacoatiara, em busca de recursos para o município, o meu vice sentava na cadeira de prefeito e despachava tanto quanto o prefeito. E eu saía muito.
O Furacão: Autonomia total?     
Peixoto: Com certeza. E uma coisa que nós vamos fazer com muito afinco é garantir essa autonomia. Autonomia não é anarquia, não significa tomar o assento. Significa responsabilidade, parceria, confiança, comprometimento e zelo. E continuará assim até o fim. Depois que eu assisti algumas coisas que não deram certo com o vice do meu primeiro mandato, estou muito mais atento, cauteloso e, sem dúvida nenhuma, eu não vou precisar de me indispor com meu vice em função da trajetória que eu tenho com ele de três anos de parceria, de trabalho e de confiança. Mas eu tenho que estar muito atento pelo que eu já assisti.
O Furacão: O senhor tem o apoio de quantos vereadores?
Peixoto: A Câmara de Itacoatiara é formada por quinze vereadores. A nossa coligação elegeu seis, mas estamos conversando com os vereadores eleitos para que a gente possa obter a maioria da bancada com a finalidade de fazermos um bom trabalho para o nosso povo.
O Furacão: O senhor já tem o nome do futuro presidente da Câmara na manga da camisa?
Peixoto: Não. Nós estamos articulando. Eu tenho pretensões, assim como o prefeito que perdeu as eleições está trabalhando, como trabalhou todas as outras vezes para fazer a Mesa da Casa ter maioria e prejudicar os prefeitos que se elegeram contra ele ou os candidatos dele, como foi agora. Mas eu quero, com muito afinco, fechar o nome de um candidato para que possamos trabalhar a possibilidade de termos um Poder harmonicamente independente, mas afinado com os projetos que o nosso governo vai desencadear.
O Furacão: Atualmente, como o senhor analisa a situação do PT, a nível de Brasil?
Peixoto: Nós podemos registrar um projeto de tentativa de degradação. A direita conseguiu, ao longo de todos esses anos, impetrar uma política que tentasse destruir o partido que mais construiu a história bonita desse Brasil.
O Furacão: Mas a direita não era aliada ao PT?
Peixoto: Nesse caso até o quanto foi necessário, enquanto foi benéfico. Em toda a história da humanidade, todas as vezes que os trabalhadores se aliaram à direita, no caminho do processo eles foram usados. É só você acompanhar a história.
O Furacão: Como o senhor avalia o impeachment da ex presidente Dilma?
Peixoto: O impeachment foi político e não jurídico. Todos os organismos internacionais garantem severamente que a Dilma não cometeu nenhuma ilicitude para merecer ser impedida, enquanto os que cometeram estão no governo, no Poder. Por que essa história vai ser contada daqui há dez anos com uma outra letra, com outras frases? Porque vai ficar provado que a ex presidente Dilma foi impitimada porque não negociou nenhuma ilicitude com A, B ou C e ela pagou um preço alto por causa disso.
O Furacão: Então o impeachment não foi da Dilma, mas do PT? A oposição queria ver o seu partido fora do Poder?
Peixoto: Na realidade o impeachment foi contra o projeto político do PT. E ainda mais: a direita tinha certeza que a Dilma passaria a faixa para o Lula em 2018. Sem o impedimento da nossa ex-presidente eles poderiam ter visto além dos 8 anos do Lula, os 8 da Dilma e mais 8 do Lula novamente e isso era um golpe no meio do coração de toda direita que se aliou, inclusive, com países estrangeiros de potência gigantescas para consumar o fato.
O Furacão: Mas hoje o Lula está na frente de todas as pesquisas...
Peixoto: Mas eles estão trabalhando para obstruir o Lula. A mesma política que tirou a Dilma, continua trabalhando com todo afinco para tornar o Lula inelegível. Creio e espero muito que isso não aconteça e nós teremos o Lula como presidente para a retomada, não só do Brasil, mas do projeto político que eles tentaram interromper agora.
O Furacão: Como o senhor analisa o desempeno do PT, em nível nacional, que só elegeu um prefeito de capital, como no caso de Rio Branco, no Acre?
Peixoto: O eleitor do Estado do Acre reconhece a capacidade de liderança dos irmãos Viana (Tião Viana, governador e Jorge Viana, vice-presidente do Senado, são filhos do ex-deputado Wilde Viana e sobrinhos do ex-governador Joaquim Falcão Macedo). Na realidade o PT sofreu um verdadeiro bombardeio feito de forma orquestrada e a crise foi estabelecida quando começaram a ser descobertos desvios de dinheiro público, que não era feito só pelo PT, mas por todos os partidos e isso já está provado. Teve partido com 32 parlamentares envolvidos em escândalos e até governadores com mesada de 500 mil por mês. Pergunta-se: Lula e Dilma fizeram isso? Não! Então foi uma crise premeditada que influenciou, inclusive, as agências que classificam a qualidade e os riscos dos países para rebaixar a credibilidade do Brasil, para a Bolsa de Valores despencar, o dólar disparar e tudo isso fez a economia ir por água abaixo até chegarem ao impeachment. Isso tudo fez com que o PT caísse. Mas nós vamos retomar o poder. A história não é covarde. A história obedece a justiça e a justiça será feita em breve. Nós vamos retomar o crescimento do partido, a credibilidade e eu quero fazer parte dessa história, como o fiz quando as pessoas de Itacoatiara me deram 22.284 votos. Eu quero participar desse processo na Região do Médio e do Baixo Amazonas para ajudarmos na retomada do nosso partido. Eu creio mesmo que se não conseguirem por vias espúrias tornar inelegível o presidente Lula em 2018, ele retomará o assento em 2019.
O Furacão: Quais as suas metas para governar Itacoatiara nos próximos 4 anos?
Peixoto: A geração de emprego e distribuição de renda foi o cabo eleitoral da nossa campanha...
O Furacão: E como o senhor espera fazer isso?
Peixoto: O município de Itacoatiara está com 80% da sua população desempregada. Vamos fazer o mesmo processo que fizemos em 2009, quando tornamos Itacoatiara em um canteiro de obras, mas independentemente disso vamos lutar para que o nosso Porto, que foi objeto do meu mandato, seja construído e com isso a gente já inicia o processo de geração de emprego e renda extraordinariamente boa. Vamos trabalhar para que, com o Linhão de Tucuruí, que também é do meu mandato, seja instalada uma subestação energética em Itacoatiara que vai absorver mão de obra especializada e, para isso, já estou em contato com o governo do estado e com o empresariado local desse setor.
O Furacão: A prefeitura pretende fazer parcerias para gerar empregos?
Peixoto: Evidentemente. Pretendemos fazer parcerias com o Governo Federal, Governo do Estado do Amazonas, com a classe empresarial e outras entidades. Tanto é que já está sendo construído um porto privado abaixo do Novo Remanso e a nossa administração vai dar todo apoio. Esse empreendimento vai absorver trabalhadores com carteira assinada e ajudar no desenvolvimento do município com a geração de ICMS (Imposto de Circulação de Mercadorias e Serviços), o que melhorará, sem dúvida nenhuma, a vida da nossa população. Pretendemos trabalhar com conjunto com a Associação Comercial com o intuito de ver amanhã ou depois o terceiro polo industrial de Manaus sendo implantada e desenvolvida para a Região Metropolitana aonde Itacoatiara será a principal cidade a ser beneficiada.
O Furacão: O município tem infraestrutura para receber um polo de desenvolvimento?
Peixoto: Temos uma estrada ligando Manaus ao resto do mundo para a direção do Caribe. Possuímos o maior calado, com 70m no verão, de água doce da Região Metropolitana em termos de Bacia Amazônica. Temos muita água, muitos peixes e um aeroporto. Então nós estamos com três modais suficientes para ver a economia do município alavancar e aí vamos abrir as portas de Itacoatiara para todos os empreendedores. Vamos trabalhar com a agricultura familiar, como fiz quando fui prefeito e iremos promover, logo no início desse meu segundo mandato, o primeiro curso de Compras Governamentais para os nossos microempreendedores. Queremos trabalhar com as micro, pequenas e médias empresas para que elas possam fazer parte da nossa administração no sentido de nivelar o atendimento por baixo para todo mundo se beneficiar com o orçamento que o município de Itacoatiara tem disponível. Vamos fazer circular o dinheiro na nossa cidade, nas comunidades, precisamos aquecer a economia doméstica para fazer as pessoas consumirem melhor e, com isso, vamos melhorar o salário das pessoas.
O Furacão: Foi assim no seu primeiro mandato?
Peixoto: Com certeza foi muito melhor do que estamos vendo hoje, com toda essa gente desempregada, com a cidade estagnada no tempo, sem circulação de dinheiro, sem alternativas de crescimento. No nosso primeiro mandado o gari comprava moto, mas perderam quase tudo o que tinham adquirido porque não estavam pagando as prestações. Quando eu saí eles derrubaram em R$ 500, do valor do salário deles. Nós retomaremos toda essa linha de crescimento. O empresariado não vai para onde as pessoas não possuem dinheiro para comprar e toda vez que isso acontece o município despenca como despencou agora. Eu não vou negociar com eles para levar vantagens, não. Eu vou atraí-los. No bom sentido da palavra, significa dizer que a nossa administração não vai extorquir, mas dar apoio e fazer o empresário ganhar dinheiro em Itacoatiara, gerando emprego e distribuição de capital. É assim que o nosso mandato vai focar, sem se descuidar um minuto de todas as áreas da administração.
O Furacão: O senhor está se referindo às áreas básicas de Saúde e Educação?
Peixoto: Não se faz geração de emprego e renda sem levar em consideração o pilar. Quem é que trabalha doente? Quem é que produz sem conhecimento?
O Furacão: Fica difícil.
Peixoto: Então pronto, a nossa administração estará pautada aí.

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